
Curitiba, cidade natal da jornalista e arquiteta Haifa Yazigi Sabbag, se prepara para um evento que promete resgatar importantes momentos da história da arquitetura e urbanismo no Brasil. No próximo dia 22 de junho, Haifa, conhecida por sua simpatia e alegria, lançará a obra “Entre Traços e Linhas: Publicações para a revista AU 1985 – 1999“. Este livro, publicado pela Editora Dialética, foi organizado por seu filho Cid Yazigi Sabbag e visa eternizar um valioso acervo de entrevistas e artigos produzidos durante seus anos como Editora da Revista AU Arquitetura e Urbanismo.
Haifa Yazigi Sabbag, que se especializou em arquitetura e urbanismo, tem uma carreira marcada por entrevistas com algumas das maiores figuras da arquitetura mundial, como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Joaquim Guedes, Paulo Mendes da Rocha, Lina Bo Bardi, Burle Marx e Jean Nouvel. O livro não só celebra estas entrevistas, mas também reúne o trabalho de sua irmã Laila Yazigi Massuh, correspondente em Buenos Aires, ampliando ainda mais o impacto cultural e histórico da publicação.
A entrevista com Haifa e Cid, promovida pela Editora Dialética, revela os bastidores da criação deste livro e a importância de preservar tais memórias. Haifa, sempre cativante e entusiástica, compartilha suas experiências e a visão que moldou sua carreira, enquanto Cid oferece uma perspectiva única sobre a organização e curadoria deste rico legado. Em uma conversa que promete ser tão inspiradora quanto a trajetória da própria Haifa, mãe e filho nos convidam a redescobrir um período fundamental da arquitetura brasileira.
Confira agora a entrevista de Haifa e Cid Sabbag à Editora Dialética
1) Como se deu sua escolha pela profissão de jornalismo?
Haifa: Desde criança eu queria ser jornalista, um velho sonho. Eu tenho cinco filhos e, quando a última foi para a escola, eu também fui, em 1972. No curso, absorvia tudo com uma vontade incrível. Os jovens estavam ali, no meio da diversão e eu, com uma vontade incrível de aprender.
2) Seu livro resgata um período intenso e criativo da revista AU. O que a motivou a compilar e publicar essas entrevistas agora, tantos anos depois?
Haifa: A Layla faleceu há muitos anos e, quem teve essa ideia foi o Cid. Ele organizou tudo de uma forma bem interessante e eu fiquei bem animada. No meio da surpresa eu acabei aceitando e, agora, eu estou colaborando.
Cid: Foi muito interessante porque, quando eu vi que a mãe tinha um material tremendo, eu comecei, há 5 anos atrás, a buscar uma forma de juntar tudo isso e transformar em um material para ser publicado. Tive muita dificuldade, no início, ao entrar em contato com os arquitetos e colegas jornalistas dela, que tinham se desfeito do material que tinham. Fui buscar em algumas bibliotecas e encontrei apenas alguns exemplares da revista na de Belas Artes. Com a pandemia essa busca parou. Mas um dia, mexendo no escritório dela, encontrei toda a coleção da revista AU e todas as fitas de todas as entrevistas.
Naquela época, era muito difícil fazer contato com essas personalidades. Ela aproveitava viagens, congressos e Bienais para entrevistá-las. Eu sou médico dermatologista e todo congresso que ia, levava a mãe. Em um desses, realizado em Barcelona, enquanto estava ocupado, ela pegou um táxi e foi fazer uma entrevista com o maior nome da arquitetura em Barcelona, aos 75 anos de idade. Por todo o respeito que ela tem nesse meio, essa história tinha que ser contada.
3) Durante seu tempo na revista AU, você entrevistou figuras icônicas da arquitetura. Qual entrevista teve um impacto pessoal mais profundo em você e por quê?
Haifa: Sem dúvidas, foi o Lúcio Costa. Ele veio para uma Bienal, aqui em São Paulo, depois de muitos anos recluso, por perder a mulher em um acidente de automóvel, no qual ele estava dirigindo. Tive a oportunidade de conversar com ele e o convidei para vir jantar aqui em casa. Ele, muito simples, aceitou. Para mim, foi uma surpresa. Ele veio com a filha e a neta. Era um homem muito simples, mas muito inteligente. Lembro-me que, uma hora, falei qualquer coisa e disse a ele: ‘Ah, desculpe, Dr. Lúcio, falei uma bobagem’. Ele falou: ‘Não foi a primeira’ (risos). Eu tive que dar risada e nem tive coragem de perguntar qual foi a primeira. Então, depois de tantos anos, ele aceitar me dar uma entrevista e, ainda, jantar em minha casa, foi uma conquista muito grande.
4) Qual você acredita ser o legado mais significativo desta publicação?
Haifa: Um arquiteto que ouviu a entrevista do Lúcio Costa disse: ‘Haifa, você tem ouro na sua mão’. Porque, realmente, isso tudo está gravado.
Eu não sei se é legado, mas em todo o caso, os jovens podem participar lendo as entrevistas com esses grandes arquitetos, muitos já não estão mais aqui, outros continuam trabalhando. É muito interessante ouvir o que eles têm a dizer. Joaquim Guedes, por exemplo, era um homem muito inteligente. Além deles, são muitos arquitetos importantes que esses jovens precisam conhecer. O livro será uma fonte de referência.
Cid:O interessante é que, durante essa pesquisa para o livro, achei muitas teses de mestrado e doutorado de arquitetos que utilizaram as publicações da Haifa como base. Hoje, na forma de ebook, temos todo esse material que vai ter um acesso muito maior. Inclusive, no final do livro, eu incluí o Índice da Arquitetura Brasileira, que tem todas as publicações da mãe, desde a década de 70, com todas as referências.
5) Lançamentos: Expectativas e experiências
Cid: A mãe fez o primeiro lançamento do livro dia 05 de junho, na Casa da Arquitetura, que fica em Matosinhos – Portugal e, nessa ocasião, ela fez questão de fazer uma doação de um manuscrito que o Lúcio Costa havia feito durante uma entrevista, chamado “O ensino da arquitetura”. Como todo o acervo do Lúcio Costa e do Paulo Mendes da Rocha está na Casa da Arquitetura, nos motivou a pegar o acervo da mãe e, transformar no livro que a Dialética produziu.
Toda essa interligação do acervo pessoal do Lúcio Costa e do Paulo Mendes da Rocha sair do Brasil, também foi um motivador para mantermos no Brasil um acervo das entrevistas da Haifa e da Layla.
Haifa: Agora, em 22 de junho, vamos para Curitiba, lançar o livro lá, na Academia Paranaense de Letras. Eu estou muito feliz, será ótimo , pois sou curitibana.
6) Desde a publicação com a Dialética, quais impactos e reações vocês observaram entre os profissionais e admiradores das áreas do jornalismo e da arquitetura e urbanismo?
Haifa: O livro saiu logo depois que fomos para Portugal. E, lá, eu tive o prazer de entregá-lo para arquitetos como Nuno Sampaio, presidente da Casa da Arquitetura, que nos recebeu muito bem. Tenho certeza que o livro será muito prestigiado, lá em Matosinhos. E a Casa da Arquitetura é o lugar mais certo para ele constar.
7) Como foi a experiência de publicar seu trabalho como livro com a Dialética?
Haifa: O livro ficou muito bonito. Meu filho me fez essa surpresa, porque quando tomei conhecimento do assunto, foi com o livro na mão. Todo o processo foi feito com ele, mas sei que a Dialética deu toda a infraestrutura, o empurrão que estávamos precisando.
Cid: Eu procurei várias editoras e todas me apresentaram uma dificuldade. Mas a Dialética me atendeu muito bem. Apesar do conteúdo ser extenso, o que poderia retardar a publicação, já que tínhamos pressa, pois lançamentos internacionais estavam agendados, as equipes da Dialética me assessoraram e conseguimos produzir no tempo correto.
Já compramos cópias físicas que foram quase todas vendidas. Então, um livro de 912 páginas, pesando quase 1kg, está fazendo sucesso.
