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Wilson Jecov fala em entrevista sobre seu livro “Igreja Universal do Reino de Deus”

Livro Igreja Universal do Reino de Deus: Memória e Religião no Templo de Salomão/Foto: Arquivo Pessoal

 

Conheça o livro “Igreja Universal do Reino de Deus: Memória e Religião no Templo de Salomão” e Wilson Jecov e entenda porquê a leitura vale a pena. Saiba mais!

 

No universo da religião, onde a fé se entrelaça com a história e a memória, o livro “Igreja Universal do Reino de Deus: Memória e Religião no Templo de Salomão” emerge como uma obra fascinante que busca desvendar os elementos que compõem a trajetória de fé da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Escrito pelo autor Wilson Jecov, o livro propõe uma análise meticulosa do papel da memória e da religião no contexto do monumental Templo de Salomão, que se tornou um marco emblemático no Brasil.

 

A narrativa habilmente elaborada por Jecov conduz os leitores por um passeio pelas origens da Igreja Universal, explorando as raízes de sua fé, as práticas religiosas distintas e a construção do imponente Templo de Salomão, situado no coração de São Paulo.

 

Confira a entrevista de Wilson Jecov à Editora Dialética:

 

Wilson F. Gabriel Eliahu Jecov é Bacharel Licenciado em História pela USP, Especializado em história da Educação Superior pela FALC e tem Mestrado em Ciências da Religião pela UMESP/Foto: Reprodução.

 

1 – Qual foi a inspiração ou motivação para escrever sobre o Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus? O que o levou a escolher esse tópico específico?

 

R – Ótima pergunta, eu fiz mestrado durante dois anos na Universidade Metodista de São Paulo, onde fui bolsista integral e a produção intelectual para a sociedade foi a minha tese com o mesmo título do livro.

Houve gente como um colega meu prof. Dr em Geografia pela UF-Uberlândia que me incentivou a escrever sobre o assunto, e com isto já tinha alinhavado algumas idéias do tema, mas foi a entrevista com o prof. Dr. Dario Paulo B. Rivera que me deu um norte a pesquisa porque o pré-projeto precisava de algumas bons ajustes formais para ser aceito pela comissão e com estas dicas fiz o pré-projeto passei no exame seletivo e na entrevista. Prof. Rivera depois daquela entrevista comigo seria o meu professor orientador da tese de Mestrado, sou grato e ele até hoje.

 

No caso a orientação do prof. orientador me foi muito importante naquele momento e em todos os outros  de preparação da dissertação e depois da defesa da tese. Muita gente já havia escrito sobre a Universal debruçando-se sobre a relação economia religião – a teologia da prosperidade, ou sobre os efeitos da modernidade liquida sobre a religião no Brasil, gerando comentários sobre práticas sincréticas dentro da liturgia de culto desta denominação evangélica. 

 

Eu me interessei por um tema que passasse em paralelo a todos estes bons trabalhos produzidos que se debruçasse sobre a Pós-Modernidade, citando pouco da teologia da prosperidade, mas resgatando cultura, geografia, história e memórias do grupo e vendo as novas religiões pentecostais em nosso país como Novos Movimentos Religiosos independentes que podem ou não se converterem com o tempo em religiões ditas formais ou tradicionais

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2 – Pode nos contar mais sobre a importância do Templo de Salomão como “geossímbolo” da comunidade iurdiana e como ele representa a projeção da denominação no Brasil e no mundo?

 

R- Porque nas nossas análises construídas sobre a denominação e o edifício referência, nos apropriamos e dialogamos com as diversas teorias geográficas naquele momento. E falar do conceito de geossímbolo é falar de geografia aplicada.

 

A gente chama como geossímbolo, edifício, estátua ou marco de pedra, placa etc, um objeto que tem importância, significado grandes dentro da geografia de uma comunidade humana, porque ele atesta, demarca, indica a existência da primeira de forma visível, isto é a geograficidade e a territorialidade da mesma, alimentando por sua vez a relação entre a memória grupal e a geografia, o local no qual a coletividade citada se encontra e inscreve no meio. Produzindo a memória do lugar e o lugar da memória. 

 

3 – Em seu livro você menciona a relação entre memória e religião. Como o livro explora a construção da memória dentro da Igreja Universal do Reino de Deus?

 

R – A relação entre a memória e a religião existiu, existe e sempre existirá nos estudos geográficos, históricos e sociológicos onde o Homem for o objeto de tais pesquisas. São os estudos sobre a sociologia da Memória que nos fazem debruçar sobre a força da tradição, de uma linha de crença ou de fé.

 

No meu livro comento que todos os grupos buscam para si na sociologia da Memória uma ancestralidade comum, uma referência geográfica anterior – um lugar ou fato histórico antigo ou ainda um ilustre personagem ou data.

 

Exemplo1: A maioria dos cristãos no mundo em geral comemoram 25 de Dezembro como a memória do nascimento do fundador da fé cristã – Jesus Cristo, outros que se dizem cristãos não adotam esta linha de crença ou de fé, a data como algo sagrado de uma memória religiosa importante para aquele grupo. Enquanto a maioria das denominações ao nosso redor fazem a sua cantata de Natal, a Universal não partilha deste detalhe, não tem uma programação especial de culto como tem os cristãos protestantes históricos e pentecostais.

 

Exemplo 2: Todos os cristãos são historicamente carismáticos em sua origem comum, a Igreja de Jerusalém e o pentecostes, as igrejas ditas pentecostais clássicas e deuteropentecostais construíram com esta linha de fé histórica, a crença, a possibilidade de reencontrarem via experiência pessoal com o sobrenatural, o pentecostes judeu citado por Lucas em Atos dos Apóstolos. Existem diversas críticas construídas por E. Macedo ao pentecostalismo nacional, vendo os grupos pentecostais antes dele – como portadores de uma fé mística, não inteligente etc.  

 

Exemplo 3: Todos os cristãos modernos de origem histórica ou tradicional tem o seu ícone de memória na reforma protestante do século XVI. E o grupo com o qual Macedo não se alinha com esta tradição histórica religiosa ocidental por mais que se esforce por causa de sua doutrina, teologia e práticas.

 

4 – Você poderia compartilhar algumas das principais descobertas ou insights que obteve ao realizar sua pesquisa para o livro? Houve algum aspecto que o surpreendeu durante o processo de pesquisa?

 

R – Quando você vai inserindo-se no universo da pesquisa bibliográfica e/ou de campo, a gente aprende muita coisa interessante. Uma das perguntas chaves que me fizeram na elaboração da obra, era se este edifício ou prédio construído pela Universal do Brás é uma réplica do histórico templo de Salomão construído na antiguidade Oriental? Esta questão mexia comigo porque um dos meus projetos era trabalhar a comparação de edifícios na história antiga oriental e na história contemporâena.

 

Quem leu a história do templo enorme construído na cidade do Rio de Janeiro, anos antes, pela Igreja Universal percebe que eles valorizam a ideia do espetáculo, da grandeza, da opulência etc. 

 

Este foi o primeiro templo que foram trazidas pedras do Oriente Médio. Portanto, o templo de São Paulo não podia ser arquitetonicamente inferior ou menor do que este, já que São Paulo é a cidade das catedrais, e faltava aqui na cidade a presença da IURD. São Paulo é a cidade mais globalizada do país e da América do Sul, portanto faria o marketing da instituição com o templo e anexos.

 

Como é normal, demos ênfase nos materiais importados e suas quantidades, especialmente as trazidas da pedreira em Hebron, e outros. Porque o interior do templo é totalmente globalizado e com alta tecnologia. 

 

Exemplos, as poltronas importadas da Espanha são especiais para estrangeiros com acesso aos tradutores daquela reunião que está ocorrendo. Macedo importou de Israel toda a tecnologia do reaproveitamento da água para fins locais e por causa disto há aquelas colunas dando suporte ao teto.

 

Templo de Salomão (IURD)/Foto: Reprodução Wikipédia

 

5 – Quais desafios você enfrentou ao conduzir sua pesquisa sobre o Templo de Salomão e a Igreja Universal do Reino de Deus? Havia barreiras de acesso ou resistência por parte da denominação religiosa?

 

R – Historicamente a IURD teve problemas diversos com a mídia jornalística e televisiva ao seu redor, por causa de uma série de comentários, denúncias etc que com o tempo não se sustentaram, gerando assim nas lideranças religiosas uma postura mais defensiva ou mais protetiva. 

 

Isto ficou claro não para mim, mas com um pesquisador da área que encontrou dificuldades em acessar ao grupo e deixou isto anotado nos seus trabalhos. Diante do que este autor comentou fui “vacinado” e ao ir lá me comportei como mais um anônimo, cumpridor de regras ali estabelecidas pela denominação, eu não criei problemas com eles, e nem eles criaram problemas comigo, fui educado, polido e me portei bastante interessado nos materiais escritos, e depois os eletrônicos para fins de pesquisa bibliográfica, pois perto da minha casa tem uma pequena igreja do grupo.

 

O que mais me surpreendeu na visita ao templo e assistir ao culto, foi a presença de tecnologia de segurança individual com os seguranças ali encontrados, semelhante à que houve aqui na Copa do Mundo do Brasil em Julho de 2014 e dentro da nave do templo.

 

Este mesmo comportamento pessoal norteou o meu trabalho de campo, quando das visitas técnicas feitas ao templo de Templo Salomão e adjacências e na catedral de São Caetano do Sul, Grande São Paulo. 

 

A inauguração do templo me franqueou o acesso às portas abertas que estavam em destaque na mídia local, mas nem todas estavam abertas para este fim. Portanto, precisei fazer “a técnica da leitura contra ao pelo”, ou ler “pelo avesso” para fazer determinadas conclusões da Universal e do templo.

 

O desafio era fazer um trabalho cruzado, isto é mesmo não sendo eu membro da IURD, estudei e pesquisei para falar dela como objeto de minhas pesquisas, construindo assim empatias com o desenvolvimento do tema.   

 

6 – Como você vê o impacto do Templo de Salomão e da Igreja Universal do Reino de Deus na sociedade brasileira e no cenário religioso global? Quais são as implicações sociais e religiosas dessa construção?

 

R – A nível nacional o complexo de edifícios dentre eles, o Templo de Salomão,  se tornou um importante ícone de importante referência para o turismo dentro da nossa cidade sendo premiado por isto por autoridades competentes no país.

 

E a nível internacional o conjunto de prédios os quais podem ser lidos por nós, cientistas e geógrafos como: um fixo internacional capaz de acolher e receber os fluxos humanos que o visitam de diversas partes do mundo, portanto totalmente ancorado no conceito de globalização de nossos dias.

 

Implicações econômicas, religiosas e sociais vão existir. Por exemplo, o templo vai completar dez anos de inauguração em 2024. E por sua vez será um acontecimento grandioso e midiático se você comparar com a inauguração em grande estilo em 2014. 

 

À nível religioso temos um espaço universalista capaz de captar pessoas de diversas denominações cristãs e não cristãs, super organizado quanto a recepção.

 

E a nível social a sua abertura à sociedade internacional e nacional, graças a visita de muitos, os anônimos e famosos – nacionais ou estrangeiros, gente associada às diversas mídias, a política etc, que foram notícia no órgão oficial eletrônico e escrito da instituição ou a presença de autoridades políticas nacionais na inauguração do mesmo revela esta abertura com o social e seus representantes.    

 

A nível econômico o impacto não foi aquele que muito esperavam com estímulos ao crescimento do bairro, já que a igreja esposa a teologia da prosperidade, e na prática ela não alcançou os demais moradores, o bairro continuou com prédios decadentes, habitações populares sem qualidade etc, e o templo ali iluminado a noite ou de dia, uma ilha de florescimento e de prosperidade local.  

 

7 – Qual é a mensagem central que você espera que os leitores retirem do seu livro “Igreja Universal do Reino de Deus: memória e religião no Templo de Salomão”?

 

R – Que todos nós seres humanos fomos, somos e seremos o Homo religiosus, todos fomos dotados do senso de religiosidade, que nos leva a construir a ligação com o sobrenatural, com o sobrenatural e esta ligação chamamos de religare.

 

Religião é importante, faz parte da cultura de todos os povos e todas as nações no mundo. Dependendo do momento, ela pode ser o “ópio” do povo, como também o “gemido ou o grito” do povo sob as cadeias da opressão. E os vários pentecostalismos são formas de manifestação delas entre nós. Revelando a todos dentro das diversas periferias, o seu lado emocional e imanente, isto é, estar perto ou próximo de nós, e nos influenciando no cotidiano com crenças, expressões, mantras, práticas litúrgicas etc.

 

8 – Como foi a experiência de publicação do seu livro? Você pretende escrever mais sobre o tema?

 

R- Eu sou filho de uma família que tem os avós maternos, migrantes e os  avós paternos imigrantes, nenhum deles foi ligado a área editorial. Eu sou até aqui, o primeiro filho ilustre dela que cursou o bacharelado na USP e o mestrado na Metodista. Isto me tornou uma importante referência para meus filhos, meus primos, e a todos que estiveram em contato comigo, cumprindo o meu propósito em compartilhar conteúdos com responsabilidade. 

 

Portanto, para mim, publicar um livro, o meu livro, foi uma experiência boa, interessante e ótima.  Escrever foi mais um passo dado nesta missão e propósito de iluminar os outros, é super importante porque também sou o pioneiro dentro da família e um exemplo positivo para aqueles que veem debaixo como eu, os quais conhecem o caminho das pedras para ter um local ao sol. Sim, havendo oportunidades continuaremos a tratar sobre este assunto: o pentecostalismo no Brasil.

 

Publique seu estudo como livro você também!

 

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