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Câncer de Próstata: uma conversa esclarecedora com a psicóloga e autora Angela Naccarato

Câncer de Próstata

Ao longo da entrevista, exploraremos questões cruciais relacionadas à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do câncer de próstata. Confira!

 

Angela Naccarato é autora da Editora Dialética e, dentre outras atividades, atua como psicóloga especializada no setor de oncologia do Ambulatório de Urologia Oncológica da Universidade Federal de Campinas (Unicamp).

Seu profundo conhecimento e experiência destacam-se no campo do câncer de próstata, e Angela compartilha suas perspectivas valiosas através de seu livro, “Câncer de Próstata, Tratamento, Qualidade de Vida: Como Montar Este Quebra-Cabeça?”.

 

Ao longo da entrevista, exploraremos questões cruciais relacionadas à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do câncer de próstata, enquanto Angela fornece insights essenciais sobre a importância do suporte emocional para pacientes. 

 

Além disso, mergulharemos na abordagem integral do tratamento, destacando a reestruturação cognitiva como uma ferramenta fundamental para ajudar indivíduos a encontrar maneiras satisfatórias de viver com a as consequências do tratamento da doença.

 

Com uma abordagem compassiva e baseada em evidências, Angela Naccarato oferece não apenas informações cruciais sobre o câncer de próstata, mas também orientações sobre como manter e melhorar a qualidade de vida durante e após o tratamento. 

 

Esta entrevista vai fornecer uma visão valiosa para aqueles que buscam compreender os melhores desafios associados ao câncer de próstata e descobrir estratégias práticas para enfrentá-los. Confira:

Angela Naccarato
Angela Naccarato é Professora Colaboradora, Psicóloga do Ambulatório de Urologia Oncológica e Doutora em Ciências pelo Departamento de Cirurgia, Urologia Oncológica.

 

1 – Como você vê a questão da cultura e suas influências nas atitudes dos homens em relação ao exame do toque retal? Quais outros exames existem para a detecção precoce do câncer de próstata e quando é recomendada a realização?

 

R: Em relação à cultura, todos nós estamos inseridos numa cultura e o que nós acabamos identificando – não só no Brasil, não é exclusividade nossa, isso em várias partes do mundo – é que acaba tendo essa noção de que o homem é forte, que o homem não chora, o homem não procura ajuda. 

 

Então ele acaba deixando sempre para última hora quando ele está realmente passando mal mesmo, ou quando tem uma esposa, um companheiro, um parceiro ao lado ou algum médico, na medida em que ele procura alguma ajuda, que faça esse alerta para necessidade de fazer os exames regularmente. 

 

E aí o que que acontece com o toque retal, uma pesquisa que nós fizemos alguns anos atrás que [mostra que] também depende do nível socioeconômico. O homem acaba tendo realmente alguns receios quanto à questão dos seus exames e a questão de ser um toque retal e tudo que fala-se a respeito, sempre tem uma “brincadeira” envolvendo justamente a masculinidade, isso acaba afastando essa procura. 

 

Vale lembrar que não é só o toque retal, ele também tem que ser acompanhado o PSA, que é o antígeno prostático que quando ele  está mais elevado temos a possibilidade de detectar que tem um alerta. E aí realmente não podem ser isolados, têm que ser os dois juntos que eles vão ter maiores especificidade e a consistência melhor. Quando um desses exames estão alterados passa-se para outra parte, que é o pedido de uma biópsia, de algum exame de imagem para realmente fechar o diagnóstico.

 

2 – Diante do medo, confusão e incerteza que os pacientes enfrentam ao receber o diagnóstico de câncer de próstata, o que você sugere para o paciente lidar com essas emoções e qual é a importância do suporte emocional nesse processo?

 

R: Mais uma vez, quando a gente fala nessas questões de doença e/ou saúde, temos muitas más informações a esse respeito e, infelizmente, até os dias atuais nós temos esse estigma com relação ao câncer. 

 

Ele está sempre relacionado a dor,  a um tumor deformante e a possibilidade de morte. Então nos coloca de frente a nossa limitação humana, então não tem como não vir acompanhado pelo medo, por todo esse receio e é difícil aceitar a possibilidade, inclusive, que eu esteja com o câncer. Então eu sempre digo que é muito importante que quando venham a consulta venha acompanhado de uma pessoa. 

 

Um familiar, um amigo, seja quem tiver uma disponibilidade, um vizinho, porque quando a gente acaba recebendo um diagnóstico desse tipo ou tem todas as orientações médicas, nossa escuta fica muito reduzida, ela fica seletiva, então eu não assimilo tudo aquilo que me é passado.

 

Se eu tenho alguém me acompanhando fica mais fácil de eu poder ter mais alguém que escute e me ajude nessa compreensão. E qual a importância justamente de termos esse acompanhamento, por isso que o nosso protocolo na Unicamp é justamente esse – logo após o diagnóstico passar por um de nós da psicologia? Porque aí você volta o assunto, você pode esclarecer não só as emoções, que vai ser uma confusão delas, e clarear um pouquinho. 

 

Então eu gosto muito também de mostrar as nossas fotos porque você pergunta para o homem: você sabe onde que tá a sua próstata? Geralmente eles não sabem. Não sabe onde ela está localizada, todos os órgãos que tem ao redor, que a uretra passa no meio da da próstata. 

 

Tudo isso que acaba sendo confuso, então quanto mais a gente puder clarear, mais fácil vai ser da aceitação e da aderência ao tratamento e a possibilidade de escolha de um tratamento também, porque são várias as possibilidades dependendo justamente de qual o status desse paciente, de como está esse câncer, mas a escolha é sempre do paciente.

 

Se ele tem uma consciência um pouco melhor sobre a doença, ele pode fazer uma melhor escolha e aderir ao tratamento, então é fundamental que tenha um apoio psicológico e eu sempre recomendo que pelo menos duas vezes passe conosco para poder tirar dúvida. Tirar essas dúvidas para que não tenham essas informações erradas que acabam atrapalhando demais. Tanto que às vezes a gente escuta: “Ah, mas o doutor nunca me disse que ia acontecer isso”. E eu tenho certeza que disse só que não tem essa escuta, sabe?

 

3- Seu livro destaca a importância da abordagem integral no tratamento do câncer de próstata. Como você explora os diferentes aspectos do bem-estar, incluindo a função sexual, no seu livro e como isso impacta a qualidade de vida dos pacientes?

 

R: São vários aspectos que estão incluídos, envolvidos na nossa qualidade de vida, ainda mais a qualidade de vida relacionada à saúde. Então nós temos o nosso nível socioeconômico, onde nós habitamos, o nosso nível de escolaridade e todas essas condições, elas acabam afetando. Quando é a nossa funcionalidade, o quanto me afeta nas minhas tarefas do dia a dia e um desses elementos é a nossa função sexual.

 

A sexualidade faz parte de todo nos seres humanos, de toda a nossa história desde lá do comecinho e uma das consequências dos tratamentos, quando é a cirurgia essas consequências são mais rápidas, é que vem em incontinência urinária e a disfunção erétil que são a primeira coisa que vai impactar na qualidade de vida.

 

Então se ele não tem um suporte olhado para isso dando dicas do que fazer e de como compreender melhor, com certeza essa qualidade de vida já vai estar afetada ali no primeiro mês, porque é uma situação que esse homem nunca viveu, ele nunca passou por isso, ele nunca passou por uma cirurgia para tirar sua próstata ou por uma radioterapia para poder fazer esse tratamento, sendo essa a escolha, que demora um pouco mais, mas também vai ter as mesmas consequências.

 

Então qualquer um dos tratamentos vai acontecer alguma coisa que vai afetar a qualidade de vida mesmo no acompanhamento vigiado que hoje é muito mais utilizado, porque ele vai acompanhando este homem, vendo a progressão e não fazendo já um tratamento diretamente imediato.

 

Mas e a ansiedade? E a dúvida de você está vivendo com isso? E o que acontece algumas vezes também que a gente acaba vendo é ele esquecer e não ir na consulta. Então qualquer um dos tratamentos ele vai ter um impacto e consequentemente afeta a  qualidade de vida, porque um aspecto que não esteja ali mais ou menos dentro de um equilíbrio, ele vai acabar fazendo um declínio em todas as outras funções.

 

4 – Seu livro aborda a reestruturação cognitiva como uma abordagem no tratamento contra o câncer de próstata. Poderia explicar como você propõe aplicar essa técnica e de que maneira ela pode contribuir para que cada indivíduo encontre sua maneira satisfatória de viver?

 

R: Todos nós, desde o nosso início de vida, acabamos numa questão de sobrevivência tendo as nossas defesas sendo construídas de acordo com as nossas frustrações e dificuldades de lidarmos com algumas situações então, o que que acontece neste momento? Tem o impacto do câncer, do diagnóstico, o impacto do tratamento. 

 

Então é muita coisa acontecendo na vida dessa pessoa. Então podemos entender, não nós, mas a própria pessoa trazer para a sua consciência que ela consiga identificar as suas emoções e os seus sentimentos para poder saber: “Ah, então isso que eu tô sentindo é medo”.

 

Ele vai começar a identificar o que que ele sente, eu identificando aquilo que eu estou sentindo vai ficando mais fácil de eu acessar a racionalidade para poder formular o meu pensamento de uma forma onde eu consiga olhar para aquele momento que eu estou vivendo. É isso que eu falo de trazer para concreticidade, trazer para o momento presente.

 

5 – Considerando o aumento da expectativa de vida, com você destaca a importância da detecção precoce do câncer de próstata e quais são as consequências potenciais positivas para o tempo e qualidade de vida dos pacientes quando a doença é tratada precocemente?

 

R: Esse é um ponto fundamental para ser dito, relembrado e falado e que eu sempre digo àqueles pacientes: vocês são os instrumentos de informação para as pessoas que você vai encontrar, seja na sala de espera, seja no ônibus, seja lá no jardim, em todos os lugares. Vocês vão estar passando uma informação precisa.

 

Porque se você tem essa detecção precoce o quanto antes, enquanto o tumor ainda está dentro da cápsula, ali reduzido, ele não está ainda espalhado ou já está próximo da superfície, próximo a espalhar e daí vem a possibilidade de uma metástase. A possibilidade de cura é de até 90%, é muito alta, o quanto antes nós tivermos esse diagnóstico e fizermos o tratamento as possibilidades são milhões de vezes melhores do que esperar para quanto vai ter um sintoma. 

 

Quando tem um sintoma é porque esse câncer já está maior e já está comprimindo a uretra, então qual é o sintoma? A dificuldade de urinar, urinar pouquinho e levantar mais vezes à noite. Tudo isso é sintoma e se já está nesse nível é porque ele já está maior, por isso que tem que iniciar lá na frente. Para homens que tenham parentes próximos ou mesmo assim um tio de segundo grau, 45 anos. Para demais população, 50 anos. 

 

Ter isso na consciência de que é necessário os ganhos são bem melhores, porque se nós temos o tratamento temos a cura e a possibilidade de viver bem e melhor. E não esperar que a mulher, a esposa, o companheiro fique ali puxando, levando ou forçando.

 

6 – O Novembro Azul é um movimento significativo para a conscientização sobre o câncer de próstata. Na sua opinião, como esse movimento tem impactado a conscientização e a abordagem da sociedade em relação à doença? Existem especificidades que você vê no caminho dos desafios para uma compreensão mais ampla e eficaz?

 

R: A função dessas campanhas é justamente de você falar sobre o assunto. Tudo aquilo que fica escondido, fica quietinho e eu não falo, vai ficando guardado, mais coisas vão sendo colocadas e distorcidas, como eu disse anteriormente, frente justamente a cada forma de ser de cada um de nós. 

 

Então falar sobre o assunto é a melhor forma que nós temos, se eu estou escutando aquilo de alguma forma pode me clarear a mente. Então, a função dessa campanha é imensa, é grande demais, assim como é a do Outubro Rosa, assim como a de Fevereiro que falarmos do câncer de pênis – que infelizmente também é mais complicado ainda, que fica mais escondido ainda – poder falar sobre o assunto e esclarecendo justamente com informações precisas, como você disse, que são baseadas em estudos, eles têm realmente um peso muito grande. Não é que está se ouvindo falar, não, é feito uma pesquisa com todos os níveis de evidência. 

 

É fundamental estarmos falando sobre isso porque nós estamos passando justamente essa informação de qualidade para trazer a importância de que o autocuidado é a melhor forma que nós temos de trazer o maior benefício para nós mesmos. 

 

Não adianta atribuir ao outro esse cuidado, e eu sempre digo aos nossos pacientes: Você pode ter aqui todos os médicos familiares que te ajudam, mas se você não começar a cuidar de você mesmo, não adianta para nada. 

 

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