Essa entrevista oferece uma visão abrangente do livro publicado pelo professor e pesquisador. Confira agora a íntegra da conversa e saiba mais!
Com mais de 30 anos de experiência no estudo da teologia e inspirado por um livro que causou impacto em 1997, Arthur Pinto Chaves compartilha conosco, em uma conversa exclusiva com a Editora Dialética, o processo de pesquisa e escrita de sua obra.
Ele destaca os desafios que encontrou ao simplificar as complexas exposições teológicas de O. Palmer Robertson, autor cuja obra influenciou significativamente “Teologia das Alianças“.
Arthur Pinto Chaves explora implicações práticas das alianças abordadas em seu livro, destacando a importância de compreender os ensinamentos para a vida cotidiana dos leitores. Ele compartilha insights sobre alianças – como a feita com Abraão – e a significativa aliança durante o Êxodo, revelando como tais ensinamentos impactam a ética e o comportamento no mundo contemporâneo.
Além de abordar influências e fontes, o autor destaca a relevância da compreensão das alianças na teologia cristã, enfatizando a continuidade e ampliação dessas doutrinas ao longo da história.
Ao falar sobre a relação entre seu livro e o trabalho de O. Palmer Robertson, Chaves destaca a natureza didática e prática de sua obra, tornando-a acessível a um público mais amplo, enquanto a obra original é destinada a teólogos mais experientes.
Essa entrevista oferece uma visão abrangente do livro “Teologia das Alianças” e certamente despertará o seu interesse em aprofundar sua compreensão sobre o assunto. Confira a íntegra da conversa com Arthur Pinto Chaves:
1 – Como surgiu a inspiração para escrever “Teologia das Alianças” e como foi o processo de pesquisa para a obra?
Arthur Chaves: Há 30 anos eu cursei o Seminário José Maria da Conceição, apesar de nunca ter tido a intenção de me tornar pastor – não tenho essa vocação.
Em 1997 foi publicado, em português, um livro que causou enorme impacto, levando a diferentes professores se ocuparem do tema, o que aumentou o meu interesse por ele.
Como parte da minha atividade religiosa, sou professor de escola bíblica dominical, tive então oportunidade de apresentar este assunto algumas vezes, em diferentes igrejas.
Neste ano, voltei ao tema na igreja que frequento, para uma classe de jovens e logo depois para uma classe de adultos, crentes mais maduros. Como parte do curso, redigi uma apostila, que foi tomando forma e desembocou no livro que foi publicado.
A pesquisa consistiu em confrontar as afirmações desta Teologia com o que está escrito na Bíblia e com as anotações que desde sempre eu tenho sobre cada verso ou cada assunto da Escritura. Além disso, consultei diversas fontes de informação.
2 – Ao se basear na obra de O. Palmer Robertson, quais foram os principais desafios ao criar um rearranjo didático e simplificado da exposição erudita dele?
Arthur Chaves: O grande desafio é traduzir numa linguagem simples e objetiva as grandes verdades desta doutrina.
O livro de Palmer Robertson é um tratado de Teologia, profundo e erudito. Destinado a pastores e professores, pessoas preparadas e de grande conhecimento teológico e doutrinário, não ao grande público.
Para atingir os meus alunos, muitos deles pessoas simples, tive que tornar a apresentação mais objetiva, ir direto ao ponto fundamental de cada assunto e evitar digressões eruditas e notas de rodapé.
Tentei também explicar o contexto histórico em que cada evento ocorreu e mostrar o como tudo isto implica no dia-a-dia da vida cristã.
3 – Poderia destacar uma ou duas implicações das alianças abordadas no livro que considera particularmente relevantes para a vida cotidiana dos leitores?
Arthur Chaves: A ferramenta utilizada foi o método de estudo denominado de Teologia Bíblica. Ela acompanha cada tema ao longo da Escritura e vai avaliando a evolução da doutrina ao longo do tempo.
Isto supõe que o nosso Deus é um Deus que se revela ao ser humano e que esta revelação é progressiva.
O fato de a revelação ser progressiva não implica numa evolução do conhecimento, apenas no fato de a Escritura ser o seu melhor intérprete e tornar o tema cada vez mais claro e a informação mais completa.
Uma das alianças foi feita com Abraão. Nela, animais foram sacrificados e cortados ao meio, como era o uso da época para a celebração dum contrato. Os contratantes passavam entre os pedaços de animais invocando as bênçãos da aliança contratada e voltavam enumerando as suas maldições pelo eventual não cumprimento do contrato. Este era o procedimento padrão da época.
O significado desta pantomina era o dum pacto de auto maldição: caso alguma das partes quebrasse o tratado, invocava para si o destino dos animais sacrificados: ser morto e abandonado para servir de pasto às aves do céu ou aos animais da terra … Para os antigos, morrer e não ser enterrado era a pior coisa que podia acontecer!
Na narrativa, Abraão não passou entre os pedaços, apenas Deus o fez. Invocou sobre si esta maldição. Como o ser humano nunca foi capaz de viver de maneira agradável ao Senhor, ele mesmo teve que pagar pelo pacto de morte. Para isto precisou fazer-se humano em Jesus, viver uma vida sem pecado e ser supliciado até a morte de modo a pagar pelo trato não cumprido.
4 – Como você enxerga a aplicação prática dos ensinamentos das alianças no dia a dia das pessoas? Existe algum exemplo específico que gostaria de compartilhar?
Arthur Chaves: Outra aliança foi feita durante o êxodo, em frente ao Monte Sinai, servindo Moisés como intermediário entre Deus e o povo judeu. Embora não se restrinja a eles, esta aliança é resumida nos Dez Mandamentos.
A interpretação popular é que o Decálogo (dez palavras) é uma lista do que é proibido fazer. Nada mais errado. No texto não existe nenhuma punição prevista para a sua quebra.
O que estava acontecendo é que o Senhor estava separando um povo para ser seu, um povo para ser santo (santo significa “separado”), diferente de todos os demais. Um povo que deveria servir de exemplo para todos os outros povos da terra.
O decálogo é uma lista de deveres morais, a primeira parte relativa à relação entre Deus e o ser humano e a segunda parte relativa à relação dos seres humanos entre si.
Quem os segue, mesmo não sendo religioso, demonstra um padrão moral elevado e é prontamente aceito e querido em qualquer sociedade.
Dentro do conceito de revelação progressiva, apesar de terem havido outras alianças depois da aliança no Sinai, os dez mandamentos continuam valendo para nós cristãos. Não foram revogados. Esta foi uma descoberta chocante dentro do mundo em que vivemos.
5 – Além do livro de O. Palmer Robertson, que outras fontes ou autores influenciaram sua abordagem teológica na criação de “Teologia das Alianças”?
Arthur Chaves: O livro do Palmer Robertson é escrito para teólogos. Pressupõe uma série de conhecimentos que o crente comum não tem. Eu tive que inserir cada aliança nos contextos histórico e geográfico em que ocorreram, realidades totalmente diferentes das nossas, brasileiros do Século XXI.
Tive, por isto, de procurar informações em enciclopédias, em livros de História, em livros sobre documentos antigos existentes somente em museus e em dicionários bíblicos. Mas a fonte principal sempre foi a própria Bíblia, que como dissemos, é o seu melhor intérprete e explicação.
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6 – Em sua opinião, qual é a importância de compreender as alianças na teologia cristã e como isso pode impactar a vida espiritual dos leitores?
Arthur Chaves: A Reforma Protestante do Século XVI considera a Bíblia a única regra válida de fé na prática. Diferente da concepção da igreja católica romana, que considera a tradição de tanta valia quanto, ou o judaísmo que acrescentou uma coleção enorme de comentários, conhecidos como Talmude, também muito valorizados por eles. Para nós, crentes, só a Bíblia e nada mais.
Cada aliança sucessiva trouxe uma ampliação das anteriores, sem revogá-las. A volta às bases bíblicas é fundamental para o entendimento da religião cristã. A compreensão dos fatos envolvidos em cada aliança, culminando nos ensinamentos de Jesus, amplia e completa nossa compreensão acerca deles.
Da mesma maneira, verifica-se que Deus é o senhor da História, que nada do que acontece ocorre independentemente da sua vontade e o do seu plano para nós. É muito gratificante verificar isto e nos dá muita confiança num futuro totalmente diferente daquele para o qual a situação atual da humanidade aponta.
7 – Você recomenda insistentemente a leitura do livro original. Qual é o diferencial ou a complementaridade que seu livro oferece aos leitores em relação à obra de O. Palmer Robertson?
Arthur Chaves: O meu livro resume e rearranja de uma maneira didática e objetiva o de Palmer Robertson, traz informações complementares sobre o contexto histórico de cada evento e recomendações práticas sobre como cada crente pode viver no seu dia a dia as verdades bíblicas.
A recomendação do livro de Palmer Robertson é para cristãos mais maduros que demandem um aprofundamento maior sobre esta doutrina.
8 – Durante o processo de escrita, houve alguma descoberta ou insight que o surpreendeu e que não estava inicialmente previsto?
Sim. Primeiro a descoberta de que os Dez Mandamentos valem para mim também, apesar dos 36 séculos passados desde a sua enunciação. O fato de eu estar vivendo numa sociedade pós moderna onde os valores morais, o conceito de família, o respeito devido a pessoas mais dignas é contestado e muitos valores morais são considerados ultrapassados não me liberta destas regras básicas de convívio com Deus e com as demais pessoas.
Mais importante que tudo, entretanto, foi a compreensão mais clara do papel de Jesus em todo este processo. Ele instituiu a Nova Aliança, anunciada pelos profetas desde muitos séculos antes, aliança sob a qual vivemos hoje.
Pecado não é apenas matar, mentir ou roubar. É a diferença intrínseca que existe entre o ser humano com toda sua imperfeição e o Deus santíssimo. Esta diferença é o que, teologicamente, designa o “pecado”.
Agostinho de Hipona, um dos grandes santos, dizia que todo ser humano sente que sua relação com Deus está rompida e tenta reatá-la (a palavra “religião” viria de “re-ligar”).
Para isso as pessoas usam diferentes meios: comportamento pessoal, penitências, jejuns e abstinência de sexo, pobreza e quebrantamento ou humildade. Ou então, procuram intermediários entre si e Deus: anjos, santos, orixás, espíritos de luz.
Nada disto adianta. Jesus mesmo afirmou “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. Para isso, ele, que é Deus, precisou sair da eternidade, deixar de ser onipresente para encarnar-se num ser humano em tudo igual a qualquer um de nós. Esta humilhação, teologicamente, é designada por “kenosis”, palavra grega que significa “esvaziamento”.
Viveu entre nós uma vida totalmente santa, isto é, sem pecado, e morreu por nós. Na sua morte ele suportou a maldição invocada durante a aliança feita com Abraão. Pela sua morte podemos ser reconciliados com Deus.
9 – O livro é acessível para leitores com diferentes níveis de conhecimento sobre o assunto?
Arthur Chaves: Espero que sim. Esta foi a intenção de escrevê-lo. Os volumes que eu adquiri e que já distribuí entre os meus amigos parecem confirmar sua acessibilidade.
10 – Em termos editoriais, sobre a publicação do seu livro, como foi a sua experiência no geral?
Arthur Chaves: Fiquei muito impressionado com o trabalho editorial, com a beleza da capa, com a qualidade gráfica do texto e com o alto nível de atendimento pela Editora Dialética. A equipe envolvida mostrou-se ser um pessoal muito competente e de nível profissional muito elevado.
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