O autor que o senso comum é o que esconde as “maldades jurídicas”, aquelas nuances e complexidades que não são facilmente percebidas em meio às interpretações e aplicação do Direito. Assim, o livro propõe-se a destrinchar as vulgatas, revelando a verdade por trás das palavras e desmascarando os equívocos.
“A Coluna Senso Incomum que mantenho no Conjur há mais de uma década sempre teve a pretensão de “desvelar as obviedades do óbvio”. Os verbetes que criei são “descascadores de fenômenos”. É o avesso do direito e o direito ao avesso”, ressaltou o jurista em uma entrevista exclusiva.
Lenio Streck acredita que as palavras têm um poder transformador, e é necessário ter cuidado especial ao utilizá-las. Para o escritor, a linguagem é o lar dos sentidos, onde eles habitam e se expressam.
Hoje em dia está cada vez mais difícil comunicar. Parece incrível, mas quanto mais modos de comunicação temos à disposição, mais difícil se torna a compreensão do mundo. Vivemos a era da fragmentação e do prêt-à-porter. O dicionário quer mostrar essa “coisa toda” de um modo diferente. Como falei, é tão complexa a crise do direito que precisei “inventar” palavras. A linguagem surge na falta, diz a psicanálise. Pois a crise do direito abre tantas fissuras que redobra nosso esforço para preencher esses vazios.
Lenio Streck destaca em sua obra que as palavras explicam e distorcem, afirmam e negam e, no campo do Direito, a linguagem tem o poder de salvar ou destruir, dependendo de como é usada. Quando mal empregada, torna-se um instrumento de desigualdades.
Com isso, o “Dicionário Senso Incomum: mapeando as perplexidades do Direito” reúne palavras, sejam elas novas, antigas ou repaginadas que o autor utiliza, retirando camadas para revelar fenômenos jurídicos complexos e intrigantes. Um exemplo é o verbete “Fator Navah”, em que o professor Lenio denuncia aqueles que buscam atribuir existência a coisas que não existem, revelando como algumas interpretações podem ser distorcidas ou manipuladas para atender a interesses específicos.
Assim, com uma abordagem crítica e provocativa, o livro convida o leitor a refletir sobre as questões jurídicas de forma mais profunda, além das aparências e dos lugares-comuns.
“Direito é um fenômeno complexo. O problema surge quando a comunidade jurídica quer simplificar aquilo que não se pode contar de maneira simplória. Paradoxalmente, a complicação inicia na tentativa de descomplificação. A primeira coisa então é fazer uma “desleitura” disso tudo. Mostrar o que não é para que possamos entender o que é”, desse Lenio Streck.
Lenio Streck busca desafiar os leitores a questionarem as obviedades e a não se contentarem com respostas simplistas. Através de uma linguagem acessível, o autor pretende contribuir para uma compreensão mais ampla e reflexiva do Direito, incentivando o pensamento crítico e a busca por uma justiça mais igualitária e fundamentada.
“Direito serve para matar e salvar. Assim como a linguagem, que pode ser um remédio ou um veneno. Podemos “fazer coisas com palavras”, já dizia John Austin. O Dicionário quer fazer isso”, pontuou o professor.
Lenio Streck afirma que teve uma experiência muito positiva com a Editora Dialética na publicação do livro e no que diz respeito às questões editoriais, ele afirmou que têm sido extremamente positivas.
“A sofisticação gráfica e o cuidado da editoração, aliado à simpatia da equipe, são coisas que deixam a sua marca”, comentou Lenio Streck.