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Setembro Amarelo: promovendo a saúde mental e o amor à vida

7 min de leitura

Vivemos em uma época em que a saúde mental é reconhecida como um aspecto vital do nosso bem-estar geral. No entanto, o estigma em torno das doenças mentais e do suicídio muitas vezes impede que as pessoas busquem ajuda ou conversem abertamente sobre seus desafios. 

É aí que entra o Setembro Amarelo, um movimento global que acontece oficialmente no dia 10 de setembro e tem como objetivo principal aumentar a conscientização e prevenir o suicídio, além de promover discussões sobre saúde mental. 

Este artigo explora a importância do Setembro Amarelo e como ele desempenha um papel crucial na promoção da prevenção e conscientização das doenças mentais e do suicídio.

 

Como surgiu o Setembro Amarelo?

Em setembro de 1994, nos Estados Unidos, o jovem de 17 anos Mike Emme cometeu suicídio. Ele tinha um Mustang 68 amarelo e, no dia do seu velório, seus pais e amigos decidiram distribuir cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais.

A ideia acabou desencadeando um movimento de prevenção ao suicídio e até hoje o símbolo da campanha é uma fita amarela.

Inspirado no caso Emme, o “Setembro Amarelo” foi adotado em 2015 no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

 

Qual é a importância da conscientização que o Setembro Amarelo propõe?

O Setembro Amarelo atua como uma plataforma para desestigmatizar as doenças mentais e o suicídio, que muitas vezes são tratados como tabus em muitas culturas. A conscientização é o primeiro passo para quebrar as barreiras do silêncio e da vergonha que cercam esses temas. 

Ao destacar histórias reais, informações baseadas em evidências e depoimentos de sobreviventes, o movimento fornece uma visão mais clara das experiências daquelas que lutam com doenças mentais e pensamentos suicidas.

 

Qual é o propósito do Setembro Amarelo?

O Setembro Amarelo é uma oportunidade para disponibilizar uma série de recursos educativos que visam ajudar as pessoas a entender melhor as doenças mentais, identificar sinais de alerta e aprender como apoiar aqueles que estão enfrentando dificuldades. 

Esses recursos podem incluir palestras, seminários, materiais impressos e conteúdo online que abordam uma ampla gama de tópicos, desde ansiedade e depressão até transtornos mais graves.

 

Estatísticas de doenças mentais e suicídio no Brasil e no Mundo

Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.

As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres. No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).

Convidamos o pesquisador e Doutor em Saúde Pública, Juliano de Trotta, para responder algumas perguntas sobre saúde mental. O pesquisador é autor do livro publicado pela Editora Dialética “Prevenção do comportamento suicida nas organizações de trabalho”. Confira na entrevista:

Dialética: Em sua opinião qual é a importância do Setembro Amarelo para a prevenção de problemas de saúde mental?

Juliano de Trota: O Setembro Amarelo é um movimento de reação ao aumento dos casos de suicídios no mundo e à determinação da OMS de que seus países membros se mobilizem com campanhas de Prevenção ao Suicídio, a fim de elevar a prioridade desse tema como caso de saúde pública mundial.

No Brasil, pela iniciativa da CVV desde 2015, instituiu-se o mês de setembro como o mês de ações para sensibilização nacional de prevenção ao suicídio, o que torna esse mês um marco no ano importante para discussão e promoção de ações na prevenção ao suicídio. 

 

Dialética: Quais são os sinais e sintomas comuns de questões de saúde mental que as pessoas devem estar cientes?

Juliano de Trotta: De um modo geral, toda perturbação ou situações, orgânicas ou emocionais, que são capazes de interferir nas atitudes da vida cotidiana, exigindo adaptações que estão além da nossa capacidade e restringem, limitam ou causam dor ou sofrimento, já podem ser um forte sinal de alerta.

No início, o estresse faz um quadro protetivo, chamado de eustress, que é benéfico ao organismo por promover um mecanismo neuroendócrino de enfrentamento, mas se os fatores estressores perdurarem, logo inicia-se uma fase de resistência e exaustão, em que o esgotamento físico e mental se manifesta com sintomas psicológicos, como: irritabilidade, agressividade, ansiedade, tristeza, depressão, perda de interesse sobre as “coisas da vida” e astenia.

Acompanhados de sintomas físicos, como: taquicardia, arritmia, hipertensão arterial, sudorese, dispepsia, diarreia, lesões cutâneas, cefaleia, dores musculares etc.

 

Dialética: Quais são algumas estratégias para lidar com o estresse do dia a dia e evitar questões de saúde mental? 

Juliano de Trotta: Recomenda-se  transformar os hábitos: (1) Procurar fazer atividade física pelo menos 50 minutos 3x por semana, com orientação profissional; (2) Alimentação saudável (base de frutas e verduras, redução no consumo de carnes, gorduras e açúcares); (3) Respeitar os horários do sono; (4) Fazer exames médicos periódicos e preventivos, de acordo com a faixa etária e possíveis riscos hereditários.

É fundamental não esquecer da parte psicológica: (5) Evitar os vícios: lícitos e ilícitos. Não existe dose ou consumo seguro de álcool, tabaco ou drogas. Além de outras formas de compulsão: jogos, compras, remédios etc.; (6) Tratamento e acompanhamento especializado dos transtornos mentais; (7) Diversificar as potencialidades individuais, cultivando entretenimentos paralelos: leitura, música, coleções etc. Alguns estudos apontam que ter um (ou mais) “propósitos” de vida (tangíveis) ajudam a preencher o vazio existencial e (8) Praticar a comunicação “não-violenta”, é uma meta que precisa ser aprendida.

Quanto às relações interpessoais, não se deve deixar que a preguiça ou o receio da exposição pessoal esvazie a vida social. Somos seres sociais por natureza, precisamos nos relacionar.

Desenvolver a espiritualidade na amplitude da palavra é, também, algo notável. Se já houver simpatia por uma crença específica, ótimo, ela trará os dogmas, ritos e símbolos que facilitarão o encontro com o Sagrado, mas a conexão com algo maior também é possível por meio da meditação, oração, leituras edificantes, ou mesmo em serviços voluntários.

Concomitantemente, é relevante refletir antes de agir; se as intenções ou mesmo as ações estão sendo forjadas pelo orgulho, vaidade ou egoísmo. Lembre-se de praticar o (auto) perdão, compaixão, amor e empatia. 

Precisamos promover a saúde de forma integral, nas dimensões física, psicológica, social e espiritual.

De acordo com as nossas características pessoais e pelas circunstâncias em que nos encontramos, algumas dimensões são mais trabalhosas para promovermos ações de transformação íntima. Sendo assim, o importante é respeitar as particularidades do momento de vida e fazer o que está ao nosso alcance.  

 

Dialética: Como e com quem a pessoa que está passando por problemas de saúde mental deve buscar ajuda?

Juliano de Trotta: Devo pontuar que exteriorizar os sentimentos sempre é uma porta para o apoio. Um amigo de confiança ou um ente querido vai ajudar no momento de aflição e a encontrar um caminho de tratamento.

Lembro, também, que existe a possibilidade do contato com a CVV pelo fone 188 ou pelo site. O tratamento deve ser feito com profissionais especializados para isso, como o Médico Psiquiatra e o Psicólogo. 

 

Dialética: Quando alguém pode considerar quando é hora de procurar ajuda profissional para questões de saúde mental? 

Juliano de Trotta: Acredito que o acompanhamento psicológico sempre é bem-vindo, mesmo quando acreditamos que estamos sob controle.

Ter um profissional para ajudar a lapidar os sentimentos e trabalhar as reações emocionais dos estímulos que chegam a todo momento é sempre um bom apoio, principalmente quando se percebe que demandas emocionais ou pensamentos disfuncionais estão incontroláveis. Nesses casos a procura de um profissional é necessária.

 

Dialética: Quais são algumas dicas para manter um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal para promover a saúde mental?

Juliano de Trotta: Começamos com o autoconhecimento. Cada um tem seus valores e limites. Respeitá-los é imprescindível, exigir que os outros entendam isso, é um desafio! 

 

Dialética: Como a saúde mental pode afetar os relacionamentos interpessoais e que conselhos você daria para melhorar esses relacionamentos?

Juliano de Trotta: Muito simples, essa resposta: “Não faça aos outros o que não gostaria que fizesse a você!”. Temos más inclinações que precisam ser trabalhadas e os pensamentos que gostam muito de navegar por elas repetitivamente.

Não se sinta desafiado todo o tempo, não se ofenda por qualquer coisa. Nas nossas relações interpessoais, gosto de pensar que os “nossos próximos” (vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes), principalmente os que desafiam nosso orgulho, são nossos “personal trainers”. Portanto, precisamos entender cada situação e agradecer a colaboração deles nas nossas vidas e assumirmos o protagonismo das nossas mudanças intimas necessárias.  

 

Dialética: Quais são os mitos comuns sobre saúde mental que você gostaria de esclarecer?

Juliano de Trota: Já que estamos no Setembro Amarelo, vamos falar dos mitos sobre o comportamento suicida: 

  1. ”As pessoas que falam em suicídio não o realiza, estão somente ameaçando…” Isso é mito, a comunicação, bem como o planejamento são fortes indícios do comportamento suicida. 
  2. “Autolesão é somente para chamar atenção”. Isso é mito, considerar o fato de que uma tentativa pregressa de Suicídio é um forte indicativo que um outro evento futuro pode ocorrer, é necessário cuidado ostensivo;
  3. “Usar medicamentos para transtornos mentais faz mal”. Isso é mito, cerca de 98% dos suicídios estão vinculados a transtornos mentais descompensados e ou não acompanhados por profissionais especialistas de forma adequada,  principalmente: depressão, bipolaridade, esquizofrenia. Quando descompensados, podem levar ao comportamento suicida;
  4. “Dependência química é coisa de pessoas fracas”. Isso é mito, a dependência química é doença e precisa ser tratada e o envolvimento familiar é fundamental. 

Pessoas que estão passando por dificuldades avassaladoras em suas vidas e que estão com dificuldades de enfrentamento destas, como: problemas financeiros, separação conjugal difícil, acidentados com lesões permanentes (amputações), revelação recente de um diagnóstico de mau prognóstico (neoplasias avançadas), assédio moral/ sexual e luto patológico, precisam de acolhimento e acompanhamento médico e psicoterápico. 

O suicídio é um fenômeno que inicia de forma insidiosa e os sinais de sofrimento possuem manifestações perceptíveis quando estamos inclinados à compaixão e amorosidade do acolhimento.

O tratamento multidisciplinar integral é o melhor caminho para reestruturação do ser humano e na complexidade do mundo em que vive.

 

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